15 anos educando e formando para vida

quinta-feira, 8 de março de 2012

NÃO TENHO TEMPO

Velocidade é imperativo na vida cotidiana. O tempo de que dispomos para realizar todos os nossos afazeres é sempre pouco. A meta de oferecer aos nossos filhos as melhores condições de vida fundamenta nossa correria e acalma nossa consciência. 
Trabalhamos muito convencidos de que nosso papel heróico é importante para a real felicidade dos rebentos, todavia, distanciamo-nos, cada dia um pouco mais, da educação e dos cuidados das crianças e adolescentes. 
Na verdade, terceirizamos nossa função e nosso privilégio de pais às avós, babás e tantos outros agentes sociais, deixando com que os filhos cresçam e se desenvolvam alheios a nós, ausentes de pais. 
Dizemos não ter tempo. Será? Não temos tempo ou a educação dos filhos não nos parece prioridade inconteste? 
Se analisarmos, temos tempo para fazer as unhas, acompanhar as novelas, assistir aos jogos de futebol, para fazer um happy-hour com os amigos. Concluindo, conseguimos tempo para realizar afazeres que nos agradam e “deixamos para depois” as tarefas que desgastam, pois educar filhos não é tão fácil nem parece prazeroso. 
Interessar-se pela vida escolar, querer conhecer os colegas, saber sobre as dificuldades de aprendizagem e propor ajuda ao filho pode ser tedioso, como também é desgastante negar determinadas solicitações e administrar suas conseqüências: reclamações, cara feia, choros, entre tantas outras. 
Chegar em casa, após um extenuante dia de trabalho, e desejar conversar sobre os acontecimentos do dia ou ouvir as lamúrias (injustificáveis para nós), esgota nossa paciência. Levantar-se da comodidade do sofá para mediar uma discussão entre irmãos é muito desgastante, e tantas vezes preferimos fazer de conta que nada escutamos. 
Quando nos damos conta, já é tarde e nossos filhos parecem estranhos a nós mesmos. 
Muitos pais, diante de filhos rebeldes, drogados ou insolentes, revelam-me desconhecer os filhos e dizem não saber quando e por que ocorreram mudanças. 
Infelizmente, desvendo aos pais que eles, na verdade, nunca conheceram os próprios filhos. Não foram capazes de perceber as mudanças porque estavam distanciados, preocupados em propor-lhes condições favoráveis de vida e tomados por comodidade e covardia. 
Devemos abrir nossos olhos para perceber que descumprimos nossos deveres de pais, uma vez que é pela convivência que os ajudamos a construir suas escolhas, qualidades e virtudes, ensinando-lhes sobre amor, sofrimento, desilusões, ganhos, perdas...vida! 
Isso dá trabalho e exige muito empenho. Talvez seja uma das tarefas mais complexas do mundo, mas sem dúvidas é das mais honrosas. 
Talvez estejamos perdendo tempo e nem percebemos. Vamos “ganhar” tempo com quem mais merece: com os filhos, com os pais, ou seja, com nós mesmos. 

Francisca Paris-  Sistema Ético